É comum no meio espírita falar em tríplice aspecto da Doutrina Espírita, e um deles seria o científico. E justamente este é o mais atacado por não-espíritas que não aceitam como tal e o que esta mesma maioria de espíritas tem para oferecer em resposta? Infelizmente, na grande parte dos casos, apenas respostas desprovidas de fundamentos doutrinários ou mesmo racionais. E por que? Simples. Porque numerosa parcela de espíritas desconhecem as ciências e consequentemente, o método científico e pior, desconhecem o método utilizado por Allan Kardec e que deu origem a Doutrina que professam.
Esse método é o Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos - C.U.E.E. - ele é descrito na introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo. Transcreveremos alguns trechos para melhor compreensão do tema:
O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é necessário submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em contradição manifesta com o bom-senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada.
Seguindo a lógica científica, de fato o primeiro controle é o da razão. O que manifestamente a contraria deve ser descartado, e só, excepcionalmente, pode ser revisto se a hipótese racionalmente levantada não encontrar comprovação no segundo critério: o da experimentação. Assim procedem os cientistas, assim procedeu Allan Kardec.
O método experimental é utilizado porque a razão por si só não é uma guia completo e infalível, embora seja fundamental. Este método é realizado em condições específicas e com determinadas variáveis, de modo a chegar-se o mais próximo possível da verdade e, consequentemente, da validação (ou não) científica das idéias ou hipóteses trabalhadas.
Kardec seguiu rigorosamente essa lógica e a encontramos descrita em outro trecho do mesmo supracitado texto:
A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares. [...] A experiência prova que, quando um novo princípio deve ser revelado, ele é ensinado espontaneamente, ao mesmo tempo, em diferentes lugares, e de maneira idêntica, senão na forma, pelo menos quanto ao fundo.
Os critérios são a concordância, espontaneidade e o grande número de médiuns desconhecidos entre si e, por último, a simultaneidade.
Confirmando disposição neste sentido, encontra-se em A Gênese, capítulo I, item 14:
Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subseqüentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.
No início do texto, falou-se do numeroso grupo de espíritas que desconhecem o C.U.E.E., estes são facilmente compreendidos, dentre outros fatores, até mesmo pela cultura pouco afeita à leitura e a investigação que vivenciamos no Brasil. Não cabem julgamentos pessoais, portanto. Cumpre, entretanto, observar que a Doutrina Espírita só pode ser compreendida através do estudo e esta afirmação é repetida incansavelmente por Kardec em vários textos. Alguns retrucam repetindo a frase: “A fé sem obras é morta”, sem se dar conta de que o trabalho sem fé idem. E como adquirir a fé racional, a fé inabalável e a fé que advém da compreensão lógica das coisas senão no estudo sério e sistemático?
O título deste texto: “Autoridade do Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos: Autoridade da Doutrina Espírita” resume a importância capital do C.U.E.E. para a Doutrina Espírita, nas palavras do próprio Kardec, ainda na introdução do Evangelho Segundo Espiritismo:
Não será pela opinião de um homem que se produzirá a união, mas pela unanimidade da voz dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós que qualquer outro, que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco um Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. È a universalidade dos Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Este é o caráter essencial da doutrina espírita, nisto está a sua força e a sua autoridade. Deus quis que a sua lei fosse assentada sobre uma base inabalável, e foi por isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só.1
Ora, que qualquer indivíduo que desconheça ou negue o espiritismo ataque o C.U.E.E, é atitude que tem-se o dever de respeitar, pois a mesma não causa surpresa dentro destes posicionamentos. Ato de profunda incoerência, entretanto, seria a mesma atitude vinda de um espírita, pois, por tudo acima explicitado, resta óbvio que atacar a autoridade do C.U.E.E é nada mais, nada menos, que atacar a autoridade da própria Doutrina Espírita, pois uma e outra são inseparáveis.
Este texto poderia ,proveitosamente, ser encerrado aqui, mas, para que a reflexão se complete, falta um último questionamento: Teria o C.U.E.E. autoridade para os tempos atuais?
Mais uma vez Kardec, sensatamente, nos orienta:
Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no futuro, se procurará o criterium da verdade. O que determinou o sucesso da doutrina formulada no Livro dos Médiuns, foi que, por toda parte, cada qual pode receber, diretamente dos Espíritos, a confirmação do que eles afirmavam. (Evangelho Segundo Espiritismo).
Na Revista Espírita de maio de 1864:
“A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem ou de um Espírito; está na universalidade do ensino dado por estes últimos; o controle universal, como o sufrágio universal, resolverá no futuro todas as questões litigiosas; fundará a unidade da doutrina muito melhor que um concílio de homens”.
Assim, confirma-se a resposta categoricamente afirmativa e nem poderia ser diferente, pois, para que a Doutrina Espírita avance em conhecimento é lógico e imprescindível que seja através do método sobre qual repousa suas bases e sua autoridade. O C.U.E.E é o elo entre a ciência e o espiritismo, é o critério para a investigação da verdade e a garantia para a união e o futuro do próprio Espiritismo. Tal é sua finalidade, tal sua importância e sua autoridade.
1 A mesma idéia encontra-se na Revista Espírita do mês de abril do ano de 1864.
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