Por que recomendamos primeiro o médico?

Ciência
Médico

Temos visto algumas pessoas virem e se espantarem quando relatam problemas pessoais. Sistematicamente, em caso de narrativa de doença física ou distúrbio de comportamento, ou ainda, de aparente sinal de mediunidade, recomendamos sempre primeiro a apreciação medicinal.

Isso causa alguma espécie: afinal, que tipo de instituição espírita é essa que não recomenda a ninguém procurar ajuda espiritual primeiro?

Quando este espanto vem de leigos, consideramos normal. Afinal, foram século e meio de misticismo, no qual se pregou que os espíritos são a causa de todos os males humanos. Muito semelhante é o discurso de evangélicos e católicos, nos quais o "diabo" é causador de tudo. Concilie o diabo - que não existe - com espíritos e teremos aqui mais uma reprodução do modo de comportamento religioso mais atrasado: a "salvação" também vem de terceiros - ou de "Jesus" ou do centro espírita.

Esse comportamento retira confortavelmente do indivíduo a responsabilidade pelos seus males e a responsabilidade pela solução de seus males. Ora, a culpa não é dele e a solução não passa por ele, nesse raciocínio... Então, basta vir num ambiente espírita, relatar seus problemas - nos quais ele não tem a menor culpa - e recomendar-se procurar um centro espírita para "passes e tratamento de desobsessão".

Contudo, sabemos nós, por estudo sistemático da codificação, que as doenças têm como causa as imperfeições físicas. E que dentre a moderna classificação de doenças e patologias, encontramos diversos sinais que podem - de fato para o leigo - serem confundidos com mediunidade.

Citamos o ESE:

As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda ordem semeiam em nós germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo das paixões.”

...ou ainda, o indivíduo, alertado por pessoas mais levianas que se apresentam como "espíritas", alega estarem adoecendo emocionalmente, psiquicamente, por causa da suposta mediunidade, no que citamos o Livro dos Médiuns:

 

221. lª Será a faculdade mediúnica indício de um estado patológico qualquer, ou de um estado simplesmente anômalo?

"Anômalo, às vezes, porém, não patológico; há médiuns de saúde robusta; os doentes o são por outras causas."

Há até uma insistência no sentido de que a mediunidade seria causa de doenças que na época de Kardec eram denominadas genericamente como "loucura": Síndrome do Pânico, depressão, Síndrome de Burnout, bipolaridade, etc:

5ª Poderia a mediunidade produzir a loucura?

"Não mais do que qualquer outra coisa, desde que não haja predisposição para isso, em virtude de fraqueza cerebral. A mediunidade não produzirá a loucura, quando esta já não exista em gérmen; porém, existindo este, o bom-senso está a dizer que se deve usar de cautelas, sob todos os pontos de vista, porquanto qualquer abalo pode ser prejudicial."

Em outro instante, é sugerido a tal pessoa, também pelos levianos "espíritas", que ele está adoecendo por obsessão, ou seja, pela ação de espíritos adversários ou sofredores. Mas, daí, temos a falta de compreensão do que viria a ser - de fato - obsessão. A obsessão se divide em simples, fascinação e subjugação. A subjugação é um caso extremo e não tem sido relatado de forma comum. Então, descartemos isso por ora. A fascinação é o ato pelo qual o indivíduo acredita cegamente em um espírito - então é ato da vontade do sujeito. Mas, o que as pessoas geralmente relatam é a obsessão simples como sendo causa de suas doenças físicas e/ou mentais. Mas, daí temos o seguinte:

(...) Na obsessão simples, o médium sabe muito bem que se acha presa de um Espírito mentiroso e este não se disfarça; de nenhuma forma dissimula suas más intenções e o seu propósito de contrariar. O médium reconhece sem dificuldade a felonia e, como se mantém em guarda, raramente é enganado. Este gênero de obsessão é, portanto, apenas desagradável e não tem outro inconveniente, além do de opor obstáculo às comunicações que se desejara receber de Espíritos sérios, ou dos afeiçoados. (...)

...ou seja, o próprio conceito de "obsessão" tem sido mistificado no meio espírita. E agora, um agravante, retirado da mesma codificação que parece esquecida pelos espíritas:

Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito mau. Às causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de opor uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem recorrer a terceiros. (ESE cap. XXVIII)

A codificação - que para muitos está ultrapassada - guarda surpresas que destroem quaisquer argumentos falaciosos em contrário. Vemos acima a designação de que a causa das doenças é física e que seu tratamento também é físico. E que a causa de obsessão é moral, cabendo ao próprio obsidiado solucionar o problema SEM RECORRER A TERCEIROS. Ou seja, cai por terra da mesma forma a insistente mania que se tem de se dizer a alguém para "procurar o centro espírita para se desobisidiar".

Notem os amigos que até o momento não exaramos uma única posição pessoal - TODOS OS ARGUMENTOS são palavras da codificação espírita.

Então, temos o seguinte: o principio da caridade é desejar o bem do próximo e agir pelo bem do próximo. Diante das informações retiradas da codificação acima, se as causas de doenças são materiais, temos o dever de indicar primeiro o uso de recursos materiais - a Medicina e suas especializações. Incluímos aí diversas patologias mentais que são confundidas com desequilíbrios emocionais - quando na verdade são disfunções bioquímicas ou neurológicas do organismo humano. Incluímos nisso também as diversas manifestações de patologias do corpo que são confundidas com sinais de mediunidade, como esquizofrenia e Paralisia do Sono.

E como a "cereja do pudim", ainda temos a questão final: as diversas pessoas que nos procuram profundamente abatidas por uma perda recente, ou por um abalo em suas vidas, cujos sintomas não se enquadram como patologias... Como enquadrar esses casos, onde temos profunda angústia e sensação de derrota, desânimo para viver?... Mandamos para o centro espírita?...

Vejamos o que diz o Livro dos Espíritos:

943. Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?

Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. “Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”

Então, de onde se retiram argumentos de que os centros espíritas são panaceia para todos os males? Talvez do fato de que existem os "passes curadores", os "médiuns de cura"?... Bem, "passes" não existem. Existe a manipulação magnética e a cura mediúnica. Em todos estes casos a cura real - que não é ostensiva, nem corriqueira - advém do mérito. Fosse isso uma rotina de comportamento espiritual a Medicina cairia por terra e teríamos casas espíritas lotadas e nenhuma doença pelo mundo. Então, por conta do principio da caridade, se há cura medicinal, procure-se a Medicina. Mas, como saber se há cura medicinal se não se procura a Medicina? E enquanto isso, a doença prospera, propaga-se, o paciente aguarda seu milagre pessoal, a cura pelo centro espírita e no fim o que temos?

Quem responde a isso é a realidade.

A casa espírita e os recursos espirituais devem ser utilizados quando não restar nenhum outro. Apostar no mérito como fator de cura é jogar na loteria - nós não sabemos de forma NENHUMA se há ou não mérito para cura espiritual.

E por fim, o grande aspecto curador não está na casa espírita e sim no Espiritismo, quando, por meio de seu estudo e compreensão, o individuo aprende que cuidar do corpo e de se manter motivado para a vida são também aspectos necessários para a evolução espiritual. O Espiritismo nunca se apresentou como solução dos problemas de ninguém e sim como guia para a solução dos problemas do individuo por ele mesmo.

 

Eis a grandeza desta Doutrina!...

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